
- Diferenças entre Lutero e Zwínglio:
Grande esforço foi feito com o propósito de juntar luteranos e zwínglianos de todo o interior da Alemanha e Suíça, com o propósito de formarem uma liga defensiva, contra possíveis
ataques da igreja papal. Por essa razão fora marcada uma conferência
entre os dois líderes, Lutero e Zwíngliano. Para a formação dessa liga,
necessário se fazia que houvesse harmonia doutrinaria entre ambos, o que
não foi possível. Eles concordaram em catorze dos quinze artigos que definiam
os assuntos básicos da fé cristã, mas diferiam na doutrina da Santa
Ceia. Por um lado, Lutero defendia o princípio de que “o verdadeiro corpo
e o verdadeiro sangue de Cristo” eram recebidos pelos comungantes ao
lado do pão e do vinho; do outro, Zwínglio defendia que o sacramento é
um memorial da morte do Senhor e que a Sua presença é unicamente espiritual.
Aqui teve início a primeira das grandes divisões do protestantismo
nos ramos “Luterano” e “Reformado”. Embora não tivesse se destacado
tanto quanto Lutero, Zwínglio foi visto também como um servo fiel e destemido,
e um líder nobre e sábio que deu inspiração ao seu povo. Realizou
um trabalho permanente para a causa do Cristianismo em seu país.
C) Calvino e a Reforma em Genebra (Suíça):
João Calvino nasceu em julho de 1509 na França. Teve a sua infância
em dias que a Igreja Romana e suas crendices tinham forte influência sobre
o povo que se dispunha a crer em qualquer coisa absurda. Foi enviado a
Paris quando tinha apenas quatorze anos de idade, para realizar os estudos
preparatórios para a sua carreira eclesiástica. Cinco anos depois, o pai decidiu
que o filho deveria estudar Direito. Depois do falecendo de seu pai
em 1531, Calvino deixou o direito e resolveu seguir sua própria vocação:
enveredar pela cultura das letras.
Ele declarou-se protestante em 1533 e, ao fim daquele ano, acompanhado
de outros protestantes, teve de fugir de Paris em virtude de forte e
violenta perseguição. Esteve por três anos em Basiléia onde escreveu o livro
A Instituição Cristã, pelo que foi honrado como um dos mais ilustres
líderes do protestantismo. Esse livro era um tratado de teologia e declaração
sistemática de verdade cristã sustentada e defendida pelos protestantes
e destinado ao uso popular.
- Início da reforma em Genebra: Genebra era socialmente próspera,
mas de baixo nível moral. Fazia pouco tempo que ali triunfara a Reforma
sob a liderança do famoso pregador Guilherme Farel. A cidade conquistara
sua independência numa guerra contra seu bispo que era também um senhor feudal. Foi assim que, por um edital de 27 de agosto de 1535, a religião
de Roma deixou de ser religião de Genebra. A Reforma chegou a
Genebra de mãos dadas com a liberdade. Não obstante o muito que já tinha
sido feito, Farel verificou que era apenas o início da luta e se considerava
incapaz de continuar sozinho. Perplexo sobre o que fazer, foi informado
de que Calvino estava em sua cidade naquela noite. Foi ao seu
encontro e convidou-o a ficar em Geneba.
Calvino não demonstrou nenhum interesse em aceitar seu convite e
alegou estar muito ocupado com seus estudos e pesquisas. Foi aí que, como
num último e desesperador apelo, o velho pregador disse a Calvino:
“Digo-te, em nome de Deus Todo-Poderoso, que estás apresentando os
seus estudos como pretexto. Deus te amaldiçoará se não nos ajudares a
levar adiante o Seu trabalho, pois doutra forma estarias buscando a tua
própria honra em vez da de Cristo!”. O reformador cedeu e ficou. Diante
do enfático apelo, Calvino mesmo confessou: “Senti... como se Deus tivesse
estendido a sua mão do céu em minha direção para me prender...
fiquei tão aterrorizado que interrompi a viagem que havia encetado...”.
Iniciadas as suas atividades, em pouco tempo o trabalho de Calvino
resultou em desastre. Muita gente não estava com o coração predisposto à
Reforma e a oposição dessa gente resultou na expulsão de Calvino e Farel.
Saindo de Genebra, Calvino esteve por três anos em Estrasburgo,
pastoreando uma igreja protestante de franceses exilados pelas perseguições.
Enquanto isso as coisas em Genebra iam de mal a pior. Então o povo,
que já conhecia a capacidade de Calvino, convidou-o a voltar a Genebra,
apelo que ele atendeu sem relutância.
Por sua obra em Genebra, Calvino alcançou três benefícios para o
Protestantismo em geral: 1) A vida moral da cidade; 2) Genebra foi
transformada na cidade de refúgio para os perseguidos por causa da Reforma;
e 3) Foi também um lugar de preparação para os lideres do Protestantismo.
Foram preparados ministros devotados, instruídos, que se
espalharam como missionários da Reforma, pelos países onde esta ainda
não havia entrado. Muitos dos refugiados mais tarde voltaram aos seus
países de origem.
D) Calvino e a Reforma na França:
Embora Calvino estivesse ausente da França há vinte e sete anos,permanecia como líder da Reforma naquele país. Seus livros, principalmente
A Instituição Cristã, eram espalhadas como relâmpago por todo o
país, as quais eram aceitas e propagadas por humanistas franceses, que eram
estudiosos das Escrituras. Mas quando os livros de Lutero começaram
a circular na França, foi grande a perseguição levantada contra todos quantos
defendiam os pontos de vista de origem reformista.
Em 1538 o rei Francisco I decidiu mover forte e incessante campanha
contra o ensino reformado. Foi no ardor das perseguições que Calvino
tornou-se o líder mais eficaz do movimento protestante no país, dirigindo-o
através de cartas e por meio de jovens pregadores enviados de sua escola
em Genebra. Não obstante o sangue derramado e muitos mortos, a Reforma
espalhou-se por quase toda a França. Mas, só em 1559 foi organizada
uma igreja protestante nacional.
- Os Huguenotes: O rápido crescimento da influência da Reforma na
França, contribuiu para que dentro de pouco tempo, grande parte da aristocracia
francesa fosse conquistada pela Reforma. Estes grandes nobres alguns
príncipes de sangue real, não se submetiam facilmente à perseguição,
e começaram a falar de uma revolta armada. Sob a liderança desses nobres,
o movimento protestante tornou-se não somente um movimento que
visava a expansão das verdades do Evangelho, mas igualmente uma luta
contra o governo com o fim de alcançar a liberdade religiosa. Por essa atitude
os protestantes franceses ganharam o nome de “Huguenotes”, esse foi
a princípio um apelido dado aos protestantes pelos católicos romanos. A
guerra rebentou em 1562, sendo os huguenotes comandados pelo almirante
Coligny e o príncipe Conde. Ambos lutavam contra a tirania da rainha regente,
Catarina de Médicis. Essa foi a primeira das oito “Guerras Religiosas”
que durante mais de trinta penosos anos, quase arruinaram a França.
O partido católico-romano estava decidido a lançar mão de todas as crueldades,
como de fato o fez. Esse partido era dirigido pelos jesuítas e pelo
rei Filipe II, da Espanha.
- A noite de São Bartolomeu: O espírito do partido católico-romano
manifestou-se no horrível massacre de São Bartolomeu, em 1572. Num
certo período de paz, muitos dos huguenotes dentre os mais nobres da
França reuniram-se em Paris para as cerimônias de casamento de um dos
seus líderes, Henrique de Navarra. Num ataque levado a efeito durante a
noite, por ordem de Catarina de Médicis, milhares de huguenotes, inclusive o almirante Coligny e muitos outros líderes foram mortos. Rapidamente
cerca de setenta mil protestantes foram mortos em toda a França.
O papa de Roma enviou congratulações a Catarina e ambos se regozijaram
pelo que fizeram aos protestantes. Apesar deste terrível golpe, os
protestantes se reabilitaram e continuaram a luta até 1598 quando a guerra
terminou com o célebre Edito de Nantes, que concedeu ao protestantismo
um pouco mais de tolerância.
E) Guilherme Orange e a Reforma nos Países Baixos:
Os países baixos foram os territórios herdados por Carlos V, onde
ele exerceu toda espécie de hostilidade contra a influência da Reforma
Protestante. Quando as idéias luteranas começaram a se difundir, ele estabeleceu
a Inquisição, condenando à fogueira, em 1523, os primeiros
mártires da fé reformada. Apesar de mais de trinta anos de perseguição,
o protestantismo sobreviveu. A influência de João Calvino tornou-se evidente
através da obra dos missionários reformados, vindos da França e de
Genebra. Em 1555, Carlos V foi sucedido por seu filho Filipe II, na Espanha
e nos Países Baixos. Filipe foi mais carola e cruel que seu pai. De
tal sorte governou, que em poucos anos muitos povos das províncias estavam
dispostos à revolta contra a tirania espanhola que estava esmagando
a liberdade, levando todas as riquezas dessas províncias para o reino espanhol
e matando o povo por causa da sua fé. Foi assim que a causa protestante
identificou-se com a causa da liberdade.
Guilherme de Orange foi o líder do partido patriótico contra a tirania
de Filipe II. Descobrindo que o rei estava convocando tropas para esmagar
qualquer resistência ao governo, Guilherme retirou-se para Alemanha,
a fim de preparar-se para a guerra. Nesse ínterim, conheceu a verdade
evangélica e aceitou-a, dedicando-se muito ao estudo da Bíblia. Este
fato e a lembrança dos mártires que vira nos Países Baixos, tornaram-no
em m homem profundamente religioso. Daí em diante, sua carreira foi
dominada pela convicção de que ele próprio era um instrumento nas mãos
de Deus para salvar o seu povo adotivo, da miséria e tirânica opressão
espanhola.
Em 1567, a Armada Espanhola, chegou aos Países Baixos, dirigida
pelo monstro de crueldade que foi o Duque de Alba. A carnificina por ele
promovida veio enfraquecer irreparavelmente a causa da Reforma no sul
e leste do país. No ano seguinte, Guilherme começou a guerra de libertação.
No início da guerra, ele compreendeu que sua causa não triunfaria no
sul dos Países Baixos onde a população protestante havia sofrido parcial
aniquilamento pelas forças espanholas. Essas províncias do Sul vieram a
formar a moderna Bélgica, país católico-romano. Foi com os protestantes
do norte dos Países Baixos que Guilherme alcançou o seu objetivo. Seu
exemplo inspirou o seu povo “a sustentar a boa causa com o auxílio de
Deus, sem poupança de ouro ou de sangue”. Esta nobre causa teve sua vitória
em 1609. Assim nasceu a poderosa nação protestante na Holanda.
Ainda no século XVIII, surgiu uma profunda diferença teológica entre
os protestantes da Holanda. Para resolver esta disputa convocou-se em
1618 o Sínodo de Dort cuja decisão contrariou os arminianos. Os arminianos
defendiam que Cristo morreu por todos e alguns teólogos defendiam a
idéia que Deus predestina alguns para a salvação e outros para a perdição.
Os arminianos perderam, mas o ensino destes foi vitorioso na Holanda e se
espalhou por toda a Inglaterra, e depois, na América.
F) Knox e a Reforma na Escócia:
Na Escócia do Século XVI era um reino independente. Seu clero tinha
sido indigno e incompetente. Por isso os ensinos da Reforma foram
avidamente aceitos. O maior líder da causa reformista na Escócia foi João
Knox. Da sua vida passada apenas sabemos que nasceu em 1515. Da sua
ousadia como pregador do Cristianismo reformado, resultou em 1546, sua
prisão por uma força francesa que fora enviada para auxiliar o governo escocês.
Por dezenove meses suportou a “vida de morte” numa das galés de
escravos, na França. Passou depois vários anos na Inglaterra onde destacou-
se como notável pregador. Ao rebentar a perseguição no reinado da
rainha Maria, fugiu para Genebra onde se ligou a Calvino.
Enquanto Knox achava-se no exílio, a Reforma prosseguia de alguma
forma na Escócia, sob a liderança de certos nobres conhecidos como os
“Senhores da Congregação”. Quando Knox regressou em 1559 para assumir
a direção do movimento, encontrou-os prontos a lutar pela liberdade
da fé, contra a rainha regente. Dispondo de tropas francesas para lutar, ela
teria, alcançado a vitória caso Knox não solicitasse auxílio a Cecil, secretário
do Estado da rainha Isabel, que viu quanto era necessário ter uma Escócia
protestante ao lado de uma Inglaterra protestante. Em 1560 uma arma
da e um exército inglês expulsaram os franceses em meio ao maior regozijo
do povo escocês.
O campo estava livre para que Knox e seus companheiros de ideal
entrassem em ação. João Knox pregava freqüentemente com extraordinária
eloqüência, fortalecendo a causa reformista com seus argumentos poderosos.
Tinha uma profunda paixão pelas almas. Conta-se que um amigo
seu o viu orando certa noite, sempre repetindo “Senhor, dá-me a Escócia,
senão eu morro”. Não demorou organizar-se uma igreja reformada
sob sua direção (Igreja Reformada Escocesa). Auxiliado por outros ministros,
escreveu a nobre “Confissão Escocesa”.
O Parlamento adotou-a como o credo da Igreja nacional, rejeitando
ao mesmo tempo a autoridade do papa e proibindo a missa. Foi ele também
o principal autor do livro “Livro da Disciplina”, que traçava uma
forma presbiteriana de governo para a igreja, seguindo o mesmo plano da
Igreja Protestante Francesa. Em virtude dessas medidas reuniu-se neste
mesmo ano, 1560, a primeira Assembléia Geral da Igreja da Escócia.