
O Protestantismo na Alemanha
Nos anos seguintes à Reforma, o protestantismo foi marcado, por
uma era triste de freqüentes e inúteis disputas teológicas. Os luteranos e
os teólogos reformadores, travava, discussões doutrinárias que alargavam
cada vez mais as brechas entre estes dois grupos do protestantismo.
Um dos resultados destas disputas teológicas, foi a elaboração, pelos
luteranos, em 1577, de um longo credo chamado “A Fórmula da Concórdia”.
Ela condenava o Calvinismo, especialmente a doutrina da predestinação,
perpetuando assim a separação dos grupos luteranos e reformados.
“A Fórmula da Concórdia” veio a ser considerada pelos luteranos
uma expressão completa da verdade cristã. Foi esta a razão porque os ministros
luteranos dedicaram suas vidas à exposição e defesa desse credo,
em vez de procurarem fortalecer a vida espiritual do povo, induzindo-o
ao serviço cristão. As igrejas eram frias, cheias de formalidades e inativas.
A) O surgimento do Pietismo: Esse movimento surgiu em Frankfurt.
Seu primeiro líder foi Filipe Jacó Spener, que bem moço viu o grande
declínio religioso pelo qual passava seu país. Como pastor em Frankfurt
no período de 1666 e 1686, Spener muito se esforçou para que seu
povo alcançasse um Cristianismo ardente, sincero, e purificasse a sua vida
em todos os aspectos. Ele reavivou a doutrina básica da Reforma, o
sacerdócio universal dos crentes. O Pietismo inspirou em outras terras,
forte impulso pelo poder espiritual, o que produziu grandes resultados. A
Irmandade Morávia foi, em parte, um resultado desse movimento.
A Irmandade Morávia
O fundador Conde Nicolau Von Zinzendorf (1700 – 1760), nobre
austríaco que foi profundamente influenciado pelo Pietismo. Quando tinha
apenas vinte e um anos de idade, comprou um território na Saxônia,com o intuito de criar uma comunidade de pessoas verdadeiramente religiosas.
Em pouco tempo foi essa região habitada de um modo providencial.
Certos membros da irmandade da Boêmia, corpo religioso resultante da obra
de João Huss, tendo sido perseguidos e expulsos dos seus lares na Morávia,
conseguiram permissão de Zinzendorf para se estabelecerem no território a
ele pertencente. Assim começou a formação dessa comunidade que tomou o
nome de “Hernhut”, isto é, “Abrigo do Senhor”. As atividades missionárias,
que tornaram famosas os moravianos, começaram em 1731. Eles se espalharam
na Europa, Ásia, África, Américas do Norte e do Sul. Em qualquer
lugar onde se encontrassem, demonstravam a mesma coragem, consagração
e amor a todos os homens.
O protestantismo na Inglaterra
Neste época havia uma crise entre o Parlamento e o Rei. O Parlamento,
composto pelos principais teólogos puritanos, convocou a Assembléia de
Westmister (1643-1649), para apresentar planos para uma reforma definitiva
da igreja nacional.
Ao mesmo tempo o parlamento, no propósito de alcançar o auxílio da
Escócia na guerra contra o rei Carlos, aceitou a “Liga Solene” e o “Pacto”.
Este era uma ampliação do primeiro “Pacto Escocês”, e obrigava os que o
aceitassem, a defender a Igreja escocesa como tinha sido estabelecida ao
tempo da Reforma, como também tornar em conformidade com elas as igrejas
da Inglaterra e da Irlanda
A assembléia escreveu e submeteu à apreciação do parlamento, uma
constituição completa para a Igreja da Inglaterra. Além de um esquema para
o governo eclesiástico, foi apresentada a Comissão de Fé, considerada como
credo para uso da Igreja, e dos catecismos, o “Maior” e o “Menor”. O projeto
da assembléia para o governo da Igreja foi aprovado pelo parlamento,
que ratificou assim o sistema de governo presbiteriano. Mas ele nunca foi
aceito de modo geral. Não foi fácil a aplicação dessa forma de governo à
Igreja em razão da confusão reinante no país, provocada pela guerra entre o
parlamento e o rei Carlos.
C) A comunidade dirige os negócios eclesiásticos: Com a execução do
rei em 1649, seguiu-se o estabelecimento do governo da comunidade, sendo
Olivério Cromwell seu Senhor Protetor. Não obstante as muitas incertezas
dominantes no período desse curto governo, havia certa liberdade religiosa.
90 História da Igreja
Não se permitia liberdade ao romanismo ou ao sistema episcopal –
a velha forma da Igreja Inglesa, pois ambos eram considerados politicamente
perigosos. Mas, haviam igrejas de várias denominações: presbiterianas,
congregacionais, batistas, etc.
Foi nessa época que apareceu a “Sociedade dos Amigos”, ou dos
“Quakers”. Eles defendiam que a Igreja deveria ser guiada e instruída diretamente
pelo Espírito Santo e que não deveria haver qualquer sistema
fixo de governo, ou um ministério especialmente indicado, ou formas regulares
de culto. George Fox foi um dos mais poderosos líderes religiosos
dos Quakers e fervoroso evangelista que alcançou grande número de
conversos.
D) Os Puritanos: Com o apoio do governo, tiveram a oportunidade
de realizar o que desejavam, que era, fortalecer a religião e o caráter moral
do povo. A severidade das decisões puritanas forma manifestas nas
mais diferentes ares da vida nacional. Fecharam-se os teatros, foram proibidos
esportes brutais e alguns divertimentos tidos por inocentes e de
gosto popular, tais como o festejo do Natal. Não obstante a sua esplêndida
prova de caráter, havia nos puritanos certa tirania e estreiteza de visão,
que contribuiu para tornar seu governo bastante impopular entre o
povo inglês. Como a impopularidade do governo dos puritanos aumentava
dia a dia, seguiu-se uma tremenda reação do povo contra tudo que eles
tentaram introduzir e realizar. Por essa época restaurou-se a monarquia
(1660), com a elevação de Carlos II ao trono. Logo o novo governo restaurou
a igreja nacional à forma que tinha antes da vitória dos puritanos.
Os bispos voltaram às suas paróquias e o “Livro de Oração Comum” voltou
a ser o manual de culto.
Por se oporem a isto, cerca de dois mil ministros presbiterianos,
congregacionais e batistas foram expulsos de suas igrejas. Atos oficiais
proibiam assistência às reuniões que não fossem da igreja oficial. Terrível
onda de imoralidade atingiu a aristocracia inglesa e afetou grandemente
outras camadas da sociedade, em decorrência da oposição do parlamento
ao Puritanismo. O exemplo de um rei corrupto contribuiu para o agravamento
dessa tendência. O Puritanismo parecia ter sido aniquilado. Mas
tal não aconteceu.
E) A Revolução de 1689: Os acontecimentos dessa época mostraram,
todavia, que a maioria do povo preferia que a igreja nacional permanecesse como no tempo da Reforma, em vez de seguir o sistema introduzido
pelos puritanos. Tiago II, sucessor de Carlos II, tentou transformar
a igreja nacional em Católica Romana. O povo lutou com obstinada coragem,
lançando mão de todos os recursos disponíveis para que tal coisa não acontecesse.
Apelaram para Guilherme, Príncipe de Orange, e Chefe do
Estado da Holanda, para que viesse com um exército, defender a liberdade
da Inglaterra e do Puritanismo. O país levantou-se para apoiá-lo. O réu Tiago
II fugiu para a França, enquanto Guilherme tornou-se soberano da Inglaterra.
Essa revolução decidiu a favor da Inglaterra várias questões de mais
alta importância entre as quais destacaram-se as seguintes: 1) que o poder
pertencesse ao povo; 2) que a Inglaterra continuasse protestante; 3) que
houvesse liberdade de culto. Depois da revolução, a vida religiosa da Inglaterra,
entrou em declínio. A maioria do clero era constituída de homens
de pouco fervor. Os deveres dos bispos e dos ministros, foram em grande
parte negligenciados, em razão do mundanismo e egoísmo em que viviam.
Muito pouco se fazia para suprir as necessidades religiosas do povo, razão
que levou muitos a perderem o contato com a Igreja e se desinteressarem
pelas suas atividades.
F) O Reavivamento por meio de Wesley: Em meio às incertezas
quanto ao futuro da Igreja na Inglaterra, Deus levantou João Wesley, através
do qual haveria de sacudir aquela nação, e trazer ao mundo o impulso
religioso mais forte já ocorrido depois da Reforma.
João Wesley nasceu em 1703, seu pai era um dos ministros mais zelosos
que havia na Inglaterra e sua mãe uma mulher de vida santa e de altas
virtudes cristãs. Já adulto, foi estudar em Oxford, onde se destacou como
homem de letras. Entrou para o ministério e serviu por alguns anos na
paróquia do seu pai. Voltando depois a Oxford como professor de grego,
tornou-se líder de um grupo de estudantes que eram extraordinariamente
escrupulosos e metódicos em suas observâncias religiosas e deveres escolares.
Por isso foram conhecidos como Metodistas, ou do Clube Santo. Entre
eles estavam o irmão de João Wesley, Carlos, e um estudante pobre de
Gloucester chamado George Whitefield, que se tornaram em colaborados,
mais tarde em seu ministério.
Se converteu em 1738, durante um movimento religioso em Londres.
Sobre essa experiência, ele mesmo confessou anos depois: “Senti que con92
História da Igreja
fiei em Cristo, em Cristo somente, para minha salvação e alcancei grande
segurança e a certeza da purificação dos meus pecados, dos meus próprios
pecados, e livrei-me da lei do pecado e da morte”. No ano seguinte,
realizou o primeiro trabalho que o firmou como líder de um grande avivamento.
Em 1739, pregou ao ar-livre a um grupo de gente humilde, perto
de Bristol. A partir daí, quase por cinqüenta anos, Wesley trabalhou
infatigavelmente.
Seu irmão Carlos destacou-se como eficiente pregador, mas sua
principal contribuição para o reavivamento foi dada através dos seus hinos
– cerca de seis mil; e Whitefield desenvolveu enormes atividades como
evangelista itinerante. Os dois foram proibidos de pregar nas igrejas
oficiais, pois o alvoroço às vezes provocado pela pregação destes ministros,
era desagradável para aquela época caracterizada pela moderação e
restrição em todas as coisas. Depois passaram a sofrer amarga oposição
dos clérigos até serem expulsos.
Surgiu então um partido poderoso, denominado “Evangélicos”,
composto de clérigos e leigos que foram influenciados pelo movimento
vivificador. Tal influência se fez sentir na religião pessoal, na pregação e
em toda a obra ministerial, como também no trabalho dos leigos.
G) Organização da Igreja Metodista: Um dos grandes resultados do
reavivamento de Wesley, foi a formação de uma nova igreja – a Metodista.
Wesley não desejava esse resultado. A organização da nova igreja foi
coisa a que se viu forçado a aceitar e reconhecer. Por muitos anos o clero
anglicano o antipatizou e hostilizou, até que os “Evangélicos” se tornaram
bastante fortes e influentes, até mesmo os não-conformistas, isto é,
as igrejas Livres, não apoiavam nem auxiliavam o seu trabalho. Gradualmente
ele transformou suas sociedades com os respectivos pregadores em
igrejas, e, em 1784, a Igreja Wesleyana ou Metodista foi definitivamente
organizada. Sete anos depois, quando Wesley faleceu, a igreja contava
com setenta e sete mil membros.
Milhares de pessoas passaram de um cristianismo teórico e morto,
para o Cristianismo vivo e prático. Muitos deles pertenciam às classes
trabalhadoras, e foi assim que uma poderosa influência espiritual dominou
esta parte da sociedade inglesa. O amor de Deus sentido e experimentado
com novo poder que procedeu do reavivamento por toda a parte
anunciado, impulsionava os homens ao amor e ao serviço em favor dos
seus semelhantes. Essa época surgiu o abençoado movimento de ensino bíblico
popular, denominado “Escola Dominical”. A primeira escola foi iniciada
em 1780 por Robert Raikes, um jornalista cristão, culto e rico, de
Gloucester. A escola de Raikes era destinada a crianças pobres que cresciam
na ignorância, ministrando educação religiosa acompanhada de alfabetização
e ética em geral. Nessa época, ilustres cristãos destacaram-se como
líderes de movimentos de interesses nacionais, tais como: reformas penitenciárias
e contra o trabalho imposto aos menores.
H) Os movimentos missionários: O maior de todos os resultados do
reavivamento por ação de Wesley, foi o moderno movimento missionário.
Coube a Guilherme Carey, sapateiro e pregador leigo batista, iniciar o movimento
missionário. Ele impressionou seus ouvintes com a visão que tinha,
de ver o mundo pagão convertido a Cristo.
Em 1792, ele organizou a “Sociedade Batista Para a Propaganda do
Evangelho Entre os Pagãos”. O primeiro missionário por ela enviado foi o
próprio Carey, destinado a realizar um nobre trabalho na Índia. O exemplo
dos batistas foi logo imitado. A “Sociedade Missionária de Londres” foi
organizada em 1795, formada principalmente pelos Congregacionais, e a
“Sociedade Eclesiástica Missionária”, em 1799, pelos “Evangélicos” da
Inglaterra. Os metodistas também organizaram seu trabalho missionário.
Tal entusiasmo missionário se espalhou pela Escócia, América e pelo continente
europeu.