
A Igreja no Oriente da Europa
Em 1453, caiu sobre a Igreja do Oriente o maior infortúnio da sua
história: a tomada de Constantinopla pelos turcos. O Império do Oriente,
por tanto tempo campeão do Cristianismo, caiu. Tinha agora um sultão
sentado no trono do imperador. Santa Sofia, a magnífica catedral construída
por Justino, no século VI, foi tornada uma mesquita mulçumana, sinal
verde visível da capitulação do Cristianismo sob as mãos do Islamismo.
Os Cristãos perderam todos os seus direitos ainda que pudessem conservar
o seu culto, tendo de viver em sujeição, sem nenhum amparo legal. Contudo
a organização da Igreja permaneceu inalterada. O patriarca de Constantinopla
teve os seus poderes aumentados sobre os patriarcas de Antioquia,
Jerusalém e Alexandria, tornando-se o chefe de todos os cristãos do império
turco, exceto a Rússia. O patriarca era indicado pelo sultão e ficava inteiramente
à mercê do seu poder.
Com a queda de Constantinopla, muitos gregos cultos fugiram para a
Europa ocidental e ali tomaram parte do renascimento cultural. A emigração
desses homens altamente instruídos enfraqueceu seriamente a vida intelectual
da igreja oriental. O clero passou a ser composto por homens ignorantes,
e, a pregação desapareceu dos púlpitos. Assim a vitória turca foi,
em todos os sentidos, um golpe profundo e mortal contra a Igreja oriental.
96 História da Igreja
Porém, mesmo precariamente, essa Igreja continuou existindo.
A Rússia e Sua Igreja
Logo após a queda do Império Ocidental, levantou-se um novo império
norte – a Rússia. Desde a queda de Constantinopla, a igreja russa
foi se tornando independente. Nominalmente ainda era sujeita ao patriarcado
de Constantinopla, mas o bispo metropolitano de Moscou não era
mais escolhido pelo patriarca de Constantinopla. Assim, em 1587, o bispo
metropolitano de Moscou via-se elevado à categoria de patriarca.
Durante o século seguinte, a Igreja russa revelou uma vida nova,
especialmente ao tempo do famoso patriarca Nicônio. Este promoveu um
extraordinário desenvolvimento na educação e na vida moral do clero,
como também despertou interesse pela pregação. Na doutrina, porém,
não houve mudança; não se verificou qualquer progresso na direção de
uma forma mais pura de Cristianismo. quando o Protestantismo penetrou
na Rússia, foi terrivelmente perseguido e banido. Também, nem a religião,
nem o clero, nem o povo puderam libertar-se da superstição dominante.
Durante o período da Contra-Reforma, a Igreja Católica Romana
tentou também conquistar a Rússia . Foi bem sucedida em algumas regiões
do sudoeste do país à custa de certas atitudes liberais. Tudo o que se
pedia do povo que vinha da igreja oriental para a Romana, era submissão
ao papa. Foi-lhes permitido conservar sua forma de culto e costumes religiosos,
e até mesmo permissão para os membros do clero se casarem. Esses
católicos eram chamados “uniatas”
No inicio do século XVIII, czar Pedro, o Grande, deu à Igreja a
forma de governo que ela conservou até a revolução de 1917. Em substituição
ao patriarca, organizou o Santo Sínodo, que era um corpo de bispos
e sacerdotes escolhidos pelo czar. Assim a igreja russa tornou-se
completamente sujeita ao governo que passou a ser o seu “guarda e protetor”.
A Igreja na América do Norte
A história da igreja na América começou no ano de 1494, quando
Colombo, em sua segunda viagem, levou consigo sacerdotes para converter
os nativos da terra descoberta. Mais ou menos em 1565 e 1600 foram
fundadas as primeiras igrejas romanas nos Estados Unidos. Praticamente
todas as igrejas protestantes da Reforma aportaram nos Estados Unidos; a
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implantação do cristianismo se deu por vários motivos. Muitos colonizadores
esperavam encontrar a rota marítima ocidental para as riquezas da
Ásia, matérias-primas e mercados importantes para o comércio lucrativo.
Outros vieram porque criam que as colônias poderiam absorver a população
excedente dos lugares de origem. E também a colonização de pontos
estrategicamente necessários a segurança de alguns países. Ingleses, franceses,
espanhóis, suecos e holandeses mudaram-se para os Estados Unidos
e implantaram cada um a religião que praticavam na sua terra natal. O instrumento
usado nesta mudança de pessoas foram principalmente as grandes
empresas contemporâneas, que financiaram a vinda desses colonos.
A distância da Europa, o imediato engajamento dos crentes e o conseqüente
controle leigo da igreja, os constantes avivamentos, a influência
do interior e o relativo radicalismo religioso das seitas que vieram para os
Estados Unidos tornaram o cristianismo norte-americano tremendamente
criativo em suas atividades. O envolvimento da igreja institucional na satisfação
de necessidades sociais, culturais e religiosas, o trabalho jovem, missões
nacionais e o movimento ecumênico ilustram bem este aspecto criativo
do cristianismo nos EUA.
A) A implantação da Igreja Anglicana (1607): Em 1606, a Virgínia
Company (Inglaterra), recebeu permissão para explorar terras nos Estados
Unidos e em 1607 enviou colonos para Jamestown. Esta colônia de nobres
e trabalhadores foi organizada sob uma base comunal e a administração era
feita através da Igreja Anglicana. A colônia só prosperou economicamente
quando a experiência comunal se encerrou em 1619, e as terras e o privilégio
de eleger um governo representativo foram assegurados aos colonos
pela Companhia. Um número cada vez maior de anglicanos puritanos emigrou
para a colônia.
B) A implantação do Congregacionalismo (1620): Nos primórdios
do século XVII, a congregação de Scrooby, que emigrara para a acolhedora
cidade de Leyden, na Holanda, a fim de fugir à perseguição por causa
de suas idéias congregacionais, decidiu emigrar para os Estados Unidos,
temerosos de uma possível integração da sua juventude na população holandesa.
Uma companhia londrina de comerciantes emprestou o dinheiro
necessário para desse empreendimento em troca de trabalho, com a abertura
de uma indústria pesqueira. Em agosto de 1620, cerca de 100 colonos,
conhecidos como Peregrinos, saíram da Inglaterra em direção aos Estados
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Unidos e se instalaram em Plymouth, Nova Inglaterra, EUA. Esses colonos
eram congregacionais puritanos ou, talvez anglicanos com inclinação
para o congregacionalismo antes de deixarem a Inglaterra.
C) A implantação das Igrejas Batistas (1631): O começo das Igrejas
batistas nos Estados está ligado também à “revoada” dos puritanos. Roger
Williams, educado para o ministério anglicano em Cambridge, logo
adotou idéias separatistas. Sua independência intelectual levou-o a deixar
a Inglaterra hostil indo para Boston, em 1631.Daí foi para Plymouth, por
entender que a Igreja em Boston não estava suficientemente purificada.
Quando a Igreja em Salém o convidou para pastoreá-la em 1634, a Corte
Geral, interveio e ordenou sua saída, porque ele defendi o direito do índio
à propriedade da terra, opunha-se a igreja oficial e achava que os magistrados
não deviam ter qualquer poder sobre a religião do homem. Em
1639, ele fundou uma igreja em Providence e todos os membros foram
rebatizados, inclusive Williams.
D) A implantação do Catolicismo Romano (1634): A América Central
e a do Sul receberam uma cultura católica-romana autoritativa, latina
e homogênea, da Espanha e Portugal; mas a América do Norte, exceto
Quebec e Lousiana, recebeu uma cultura pluralista, anglo-saxônica e protestante,
do norte e oeste europeus. Em 1556 os espanhóis introduziram
na Flórida um catolicismo que não foi duradouro e mais tarde, no Novo
México, Arizona e Califórnia. Os franceses introduziram-no em Quebec,
mas não fincou raízes nas treze colônias antes de 1634, Maryland. A
maior parte dos irlandeses e alemães que vieram para os Estados Unidos
após 1850 eram católicos romanos.
E) A implantação dos Quacres –Luteranos (1656): Os quacres surgiram
em Boston em 1656. Em 1674, New Jersey foi dividida em duas,
uma oriental e outra ocidental até 1702. Mas foi a Pensylvania que se
constituiu no grande refúgio quacre. O luteranismo norte-americano só
teve organização definida em 1742. Entre eles tinham menonitas alemães,
moravianos, suecos, etc..
F) A implantação dos Presbiterianos (1683): Na primeira metade do
século XVII, os presbiterianos escoceses, forçados por James I a desalojas
os irlandeses, continuavam a emigrar para a Irlanda do Norte. Muitos
escoceses-irlandeses emigraram para as Colônias americanas, devido à
discriminação econômica praticada contra a Irlanda pelas leis comerciais
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da Inglaterra. Francis Makemi, um irlandês que chegou às colônias em
1683, tornou-se o pai do presbiterianismo norte-americano. Em 1706, ele
já tinha organizado um presbitério. Em 1750, perto de 100 mil foram para
os estados Unidos (Nova Inglaterra, New Jersey, New York, Pensylvania etc.)
G) A implantação do Metodismo (1760): Foi introduzido às treze colônias
após 1760, através da cidade de Maryland. John Wesley enviou dois
missionários oficialmente em 1768, e em 1784 o Metodismo foi formalmente
organizado nas colônias.
Deste modo, as várias igrejas criadas pela Reforma foram transplantadas
para os Estados ainda nos primeiros 150 anos da histórias das colônias.
Exceto, por um pouco, em Maryland e nas colônias do centro, nenhuma
igreja foi reconhecida como oficial até a Revolução Americana. Depois
da Revolução, a separação entre a igreja e o Estado levou as igrejas a
dependeram do sustento voluntário para as suas realizações.
O catolicismo romano na América Latina
Devido à associação entre Igreja e Estado, mudanças radicais no desenvolvimento
e papel da Igreja na América Latina só se processaram mediante
importantes distúrbios nas estruturas políticas. Na América hispânica,
o sistema de encomienda achava-se solidamente arraigado. Na formação
histórica da América Latina tornou-se praticamente impossível integrar-
se na sociedade sem seguir, ou pelo menos respeitar, a religião católica.
A cristandade latina emergente foi sendo moldada pelos sacerdotes que
trabalhavam em conjunto com as autoridades colonialistas.
Na América portuguesa, os europeus continuavam fazendo incursões
nas povoações jesuítas, mas dependiam cada vez mais do comércio de escravos
africanos para o suprimento da mão-de-obra necessária às plantações
de açúcar. As pressões exercidas para que fossem supridas mais riquezas
a fim de sustentar tanto as aventuras como a economia das duas pátrias-
mãe (Portugal e Espanha), tornaram-se um fardo intolerável.
Para completar, por volta do século XVI a Igreja Católica institui a
Inquisição como ferramenta para moldar as novas sociedades. O Santo Ofício
foi estabelecido em Lisboa em 1536. No México e em Lima em 1569.
Mas no Brasil a inquisição portuguesa jamais abriu um tribunal, em lugar disso, contentou-se em receber relatórios periódicos. O Santo Ofício teve
um efeito indireto mas formativo sobre a evolução do catolicismo, especialmente
no Brasil. De um lado, para frear o aparecimento de novos cristãos
ou protestantismo. Por outro lado, ele contribuiu para o sincretismo
religioso que possibilitou aos negros esconderem suas religiões africanas
sob o manto das invocações e imagens católicas. Até então o protestantismo
não constituía um problema.
Em fins do século XVIII as colônias começaram a sentir-se esgotadas.
Em princípios do século XIX elas livraram-se do jugo ibérico. As
conseqüências para as igrejas hispânicas foram desastrosas. O Brasil sofreu
menos devido à forma tomada pela sua libertação. No Brasil, a crise
entre a igreja e estado surgiu perto do final do século XIX. Mas foi também
no século XIX que o protestantismo despertou de sua inatividade e
deu início a uma intensa obra missionária na América Latina.
A Igreja protestante no Brasil
Há um enorme abismo, não só de séculos, mas também de acontecimentos
e crescimento, entre hoje e aquele dia em 1558, quando os huguenotes
(protestantes) franceses fracassados e traídos, saíram, em seu
barco frágil da baía da Guanabara. Fazia apenas três curtos anos que haviam
chegado com toda esperança de solidificar uma colônia francesa na
qual pudessem gozar de liberdade religiosa. Mas foi tudo em vão. A maioria
morreu em alto mar, enquanto outros foram executados pelos jesuítas.
Depois da tentativa dos franceses protestantes, houve outras imigrações
que também não afetaram muito a evangelização no Brasil. Os holandeses
vieram para a Bahia em 1624, mas ficaram no nordeste apenas
30 anos, antes de serem expulsos. Posteriormente, veio o “período das
trevas” na fase colonial do Brasil. As atividades da Inquisição aumentaram
e todo estrangeiro foi proibido de entrar no país.
Em 1808, as coisas começaram a mudar com uma nova lei que permitia
o comércio com países amigos. A primeira nação aceita foi a Inglaterra,
onde o espírito missionário havia acabado de surgir e estava começando
a crescer. Juntamente com comerciantes ingleses, que, em 1819,
construíram a primeira igreja protestante no Brasil (e que existe até hoje,
a Igreja de Cristo, no RJ), e junto vieram representantes das recém-organizadas sociedades bíblicas. Depois dos ingleses, imigrantes da Alemanha
e Suíça começaram a vir para o país. Os luteranos alemães chegaram
ao Rio Grande do Sul em 1823, como resultado de o governo brasileiro
buscar mão de obra para cultivo de suas terras.
A Igreja Luterana se estabeleceu no sul do país, apesar de leis do Império
daquela época, que proibiam a construção de templos, permitindo apenas
cultos nas casas. Porém os luteranos não vieram para evangelizar, e
sim para trabalhar; portanto não cresceram para incluir os brasileiros. A
igreja não cresceu por falta de apoio da Igreja da Alemanha.
A) Missões e Missionários: Houve muitos pioneiros, que desbravaram
o Brasil, evangelizando, traduzindo a Bíblia, plantando igrejas, vendendo
Bíblias, libertando as pessoas, curando os doentes, enfrentando a Igreja
Católica, construindo escolas e universidades, defendendo a liberdade,
fazendo discípulos. Não teríamos como mencionar todos, por isso destacamos
alguns missionários, que contribuíram na implantação das principais
denominações protestantes no Brasil.