
História da Igreja é a história da sua missão...
A igreja nasce, não quando o Senhor chama os pecadores, mas sim
quando o Senhor os chama para torná-los pescadores de homens.
A História da Igreja tem sido sempre, desde a era apostólica, até o presente,
a história da graça divina em meio aos erros dos homens. Esta história
confirma Cristo como a inabalável pedra e insubstituível fundamento do
grande edifício espiritual, Sua Igreja Universal, formada por todos os santos,
até a consumação dos séculos. Não podemos porém dissociar tal história
dos acontecimentos políticos, econômicos e sociais que acompanham a
história da humanidade, bem como do impacto da Igreja como entidade, na
sociedade mundial.
A história da igreja, portanto, é o relato da origem, do progresso e
do impacto do cristianismo sobre a sociedade humana, baseada em dados
organizados; e pelo método científico, a partir de fontes arqueológicas, documentais
ou vivas. Ela é a história da redenção do homem e da Terra. Para
sua melhor compreensão e assimilação, dividiremos este estudo em períodos
que vão desde a fundação da Igreja Primitiva até a chegada e estabelecimento
da Igreja Reformada no Brasil.
O ambiente em que nasceu a Igreja (30 d.C.)
Em Gátatas 4:4 Paulo chama a atenção para a história da preparação
que antecedeu a vinda de Cristo: “Vindo a plenitude dos tempos, Deus en-
viou seu filho...”; e Marcos 1:15, afirma: “O tempo está cumprido, e o
Reino de Deus está próximo...”. O estudo dos eventos que antecederam o
aparecimento de Jesus sobre esta terra, faz com que reconheçamos a verdade
das afirmações de Paulo e Marcos. Com o nascimento do Messias
um novo tempo para os povos começa a se configurar, mas somente após
a Sua morte e ressurreição é que uma nova história começa a ser contada,
inclusive e especialmente com o nascimento da Igreja, o Corpo de Cristo,
a Noiva do Cordeiro que ainda está sendo escrita até os dias de hoje.
Neste contexto é importante ressaltar as contribuições dos judeus,
gregos e romanos que de alguma forma, negativa ou positiva, contribuíram
para o impacto da chegada do Messias e para o avanço do cristianismo.
As contribuições para o avanço do cristianismo
A) A contribuição política dos Romanos:
Este povo seguidor da idolatria, dos cultos de mistérios e do culto
ao imperador, foi usado por Deus para cumprir sua vontade, e contribuir
para o cristianismo.
1º) Os romanos, como nenhum povo anterior a ele, desenvolveram
um sentido da unidade da espécie humana sob uma lei universal. Nenhum
outro império tinha conseguido uma unidade política anteriormente. A lei
romana, com sua ênfase sobre a dignidade do indivíduo, o direito a cidadania
e justiça; além de sua tendência de agrupar homens de raças diferentes
numa só organização política, antecipou um evangelho que proclamava
a unidade de raças ao anunciar a pena do pecado e um único salvador.
2º) A unificação de terras e a expansão deste império sobre províncias
e povos independentes ajudou a propagação do evangelho nos países
ao redor do Mediterrâneo, bem como na Ásia, África e Europa. A segurança
de translado agora se estabelecia pela ruptura de fronteiras, estabelecida
pela ocupação romana, dando fim a muitas guerras.
3º) Os romanos criaram um ótimo sistema viário que ia do marco
áureo, no fórum em Roma, a todas as regiões do império. As estradas
principais eram de concreto e duraram séculos. Algumas delas existem
até hoje. Paulo indica ter-se beneficiado dessas estradas, para atingir os
centros estratégicos do Império Romano.
4º) O exército romano foi de marcante presença no desenvolvimento
de uma organização universal, bem como na propagação do evangelho.
Semeador 11
Em muitos casos, soldados se converteram, e levaram o cristianismo para
outras regiões. É provável que o cristianismo tenha chegado à Bretanha através
de esforços de soldados cristãos.
5º) As conquistas romanas levaram muitos povos a falta de fé em
seus deuses pagãos, desta forma, portas foram abertas para que o evangelho
fosse pregado, devido a carência destes povos.
A consideração destes fatores nos permite concluir que o Império Romano
criou um ambiente político favorável para a propagação do cristianismo
nos primórdios de sua existência.
B) A contribuição intelectual dos gregos.
Roma pode ser identificada como o ambiente político do cristianismo,
em contrapartida, Atenas ajudou a criar um ambiente intelectual propício
para a pregação do evangelho. Roma conquistou a Grécia militarmente,
porém os gregos conquistaram os romanos culturalmente.
1º) O evangelho universal precisava de uma língua universal para
exercer um impacto real sobre o mundo da época. Alexandre “O Grande”
anteriormente aos romanos já havia espalhado a língua Ateniense pelo
mundo antigo, o qual passou a ser chamado de helenístico. Após a ascensão
de Roma, este dialeto continuou a ser usado amplamente.
2º) A filosofia grega chama a atenção para um mundo que transcendia
o temporal e o visível. Tanto Sócrates, como Platão, ensinaram cinco
séculos antes de Cristo, que este presente mundo temporal dos sentidos, é
apenas uma sombra do mundo real em que os ideais supremos são ao mesmo
tempo abstrações intelectuais. Insistiam que a realidade não era temporal
e material, mas espiritual e eterna. Porém ela apenas evidenciou que o
melhor que o homem pode fazer, é buscar a Deus através do intelecto.
A origem e significado do mundo, a existência de Deus e do homem,
o bem e o mal, enfim, tudo que tinha relação com filosofia tinha um especial
fascínio para os gregos, e associado a isso o cristianismo respondia suas
questões no relacionamento com um Deus pessoal. Era um povo educado
para as descobertas, e de braços abertos para receber coisas novas,
pois tinham compreendido finalmente a insuficiência da razão humana e do
politeísmo.
O cristianismo ofereceu com sua oferta de um relacionamento pessoal,
aquilo para o que a cultura grega , em função de sua própria inadequa12
História da Igreja
ção, tinha produzido muitos corações famintos, não apenas de nacionalidade
grega, mas por todo o mundo helenístico.
C) A contribuição religiosa dos judeus
Os judeus constituem um povo peculiar. Deus escolheu para ser seu
povo santo, separado e exemplar. Seriam eles os transmissores da revelação
divina a respeito da pessoa de Deus e de sua soberana vontade. Apoderando-
se dos ensinamentos de Jeová, a medida que iam recebendo nova
revelação progressiva, preservavam-se em sua pureza e intensidade de
modo que, cumprindo-se a “plenitude dos tempos”, esse povo se constituiu
de benção singular a todos os outros. Desta pequena nação cativa,
situada no caminho da Ásia, África e Europa, veio o Salvador. O Judaísmo
tornou-se o berço do cristianismo, e, ao mesmo tempo, forneceu o
abrigo inicial da nova religião.
1º) Monoteísmo
Ao contrário da maioria das religiões pagãs, o judaísmo fundamenta-
se num sólido monoteísmo espiritual. Nunca, depois da sua volta do
cativeiro babilônico, os judeus caíram em idolatria. Os deuses pagãos
eram apenas ídolos que os profetas judeus condenavam em termos muito
claros. Sua doutrina foi espalhada por numerosas sinagogas localizadas
em volta da área mediterrânea durante os três últimos séculos anteriores a
vinda de Cristo.
2º) Esperança Messiânica
Os judeus ofereceram ao mundo a esperança de um Messias que
estabelecia a justiça na terra. A esperança de um Messias tinha sido popularizada
no mundo romano a partir da firme proclamação dos judeus.
Certamente os homens instruídos que viveram em Jerusalém na época
imediatamente anterior ao nascimento de Cristo tiveram contato com esta
esperança.
3º) Sistema ético
Na parte moral da lei judaica, o judaísmo também ofereceu ao mundo
o mais puro sistema ético de então. O elevado padrão proposto nos
Dez Mandamentos se colocava com os sistemas éticos prevalecentes e
com as práticas por demais corruptos dos sistemas morais pelos quais se
pautavam. Para os judeus não era um mero fracasso externo, mecânico e
contratual dos gregos e romanos, mas sim uma violação da vontade de
Semeador 13
Deus, violação esta que se expressava de um coração impuro e se externava
em atos pecaminosos. Esta perspectiva moral e espiritual favoreceu uma
doutrina de pecado e redenção que resolvesse o problema do pecado. A
salvação vinha de Deus e não seria encontrada em sistemas racionalistas de
ética, ou nas subjetivas religiões de mistérios.
4º) O Antigo Testamento
Mesmo um estudo superficial do Novo Testamento revela a profunda
dívida de Cristo e dos apóstolos para com o Antigo Testamento, e sua referência
por ele como a Palavra de Deus para o homem. Muitos gentios também
leram e se familiarizaram com os fundamentos da fé judaica. Este fato
é indicado pelos relatos de vários judeus prosélitos. Muitas religiões, como
o Islamismo, por exemplo, confiam em seus fundadores por causa de seu
livro sagrado, mas o próprio Cristo não deixou livros sagrados para a igreja.
Os livros do Antigo e do Novo Testamento, foram produzidos por homens,
sob a inspiração do Espírito Santo, e são a literatura viva da igreja.
5º) Filosofia da história
Eles se opuseram a toda e qualquer visão que deixasse a história sem
significado, com uma série de círculos ou como um processo de evolução
linear. Eles sustentavam uma visão linear e cataclísmica da história, na
qual Deus soberano, que criou a história, iria triunfar sobre a falha do homem
para trazer uma era duradoura.
6º) A sinagoga
Nascida da necessidade decorrente da ausência dos judeus no templo
de Jerusalém durante o cativeiro babilônico, a sinagoga, se tornou parte integrante
da vida judaica. Através dela, os judeus e também muitos gentios
se familiarizaram com uma forma superior de viver. Foi também o lugar
em que Paulo primeiro pregou em todas as cidades por onde passou no itinerário
de suas viagens missionárias. Foi ela a causa de pregação do cristianismo
primitivo.
O fundador da igreja
O cristianismo foi favorecido pela região e pelo tempo em que surgiu.
Originou-se no mundo Mediterrâneo - o maior e mais importante centro
de civilização de então. Herdeiro que era da longa história judaica e
tendo seu início nos anos de maior vigor do Império Romano, o Cristianismo
gozava de todos os benefícios que o império oferecia aos seus cida14
História da Igreja
dãos. O grande fundador da Igreja Primitiva foi Jesus Cristo, o Filho de
Deus, enviado para a redenção do homem.